APELIDO
Ao fim de tantos anos de procura
Incessante noite e dia
Pareceu-me ter conseguido
Finalmente
Após uma longa noite de insónia
A solução para violar
Definitivamente
A fanática rigidez da composição do meu nome:
Vou
passar a nele incluir
A
partir de agora
Homenagem
tardia aminha Mãe
E
a minha vontade também
O apelido de Caçote !
O ELEITO
Para festejar
D’Aubusson
Sua vitória eleitoral
Fez uma festa ao contrário,
Os
foguetes não subiram
Desceram !...
SINOS OU ANJOS
Irei continuar a não ouvir
Os sinos das torres
E a estar atento
Aos suspiros dos anjos !
DEUSES
E por que não podemos ser
Um deus
De que se possa não gostar ?!
PARTE III
ALVORADA
Vou expulsar de vez
Esta sensação de tristeza de
Fim de tarde cinzento
Vestir meus olhos de cristais
de orvalho
Para receber-te alegremente
No vestíbulo da noite
Edificar contigo
Uma alvorada de Alegria !
CANSADO
Despenteei teu cabelo
A escorrer pelas encostas da
noite
Mesmo as madeixas de lua
prateadas
Procurando tua boca com sabor
a rio
Que beijei
Cansado
Ao amanhecer
Com a ternura fresca de meus
lábios orvalhados!
SEPARAÇÃO
Ao fim do dia
Cansados
Decidiram inventariar seus
bens:
Tinham-se apenas um ao outro !
Resolveram ali mesmo
separar-se !
DE NOITE…AMAR
Quando na rua faço amor
Com a noite
Finjo bater palmas au guarda
noturno
Para a manter acordada
Pela noite fora !
DELIRIO
No apogeu do delírio febril
Esticava-me na noite
Enorme
Tentando chegar ao Sol e
Pôr a roupa a enxugar
De suor frio ensopada
Do outro lado do mundo !...
EMERSÃO
Estou a ressuscitar
Nesta desesperada emersão
De voluntário afogamento
No oceano verde
De teus olhos multicores !
GRUTA DE FOGO
Deixa.me descer contigo
Essa gruta de fogo
Que ateámos
E onde nos perderemos
Quando nos encontrarmos !
BUSCAR-TE-EI …
Poderás não acreditar
Mas foi este meu último
soluço.
Na procura de novas lágrimas
Talvez encontre a razão da
alegria !
Buscar-te-ei então
Definitivamente
Ruborizado e trémulo
Como da primeira vez !
TEUS LÁBIOS
Quando a nave cósmica de
Teus lábios de pétala
Poisam nos meus
Despertam
vibrantes e libertos
hinos de esperança
Todas as orquestras
síncronas
De meu corpo-universo!
POEMA DE JULHO
Existe agora
Esta sensação de queda
No escuro que vem
Com sabor a calafrio
Da raiz de minha incapacidade
De cortar os pulsos
Nas arestas do fogo que acendi
Em Julho
Debaixo de forte bátega de
chuva, hoje de lágrimas
Que não deslizam !
IDADE PRIMAVERA
Mal tinha esboçado o gesto de
espreguiçar
Um bocejo de sono leve e já
vinha pelo ar
A borboleta sem corpo
apenas asas transparências
Maravilhosamente grandes
A arrastar a manhã colorida
de luz que meu leito invadiu
Fresco
De lençóis de folhas verdes
De margem de regato e
De idade primavera !
TEU VERBO
E …
No final do longo dia de luta
dura
Cai a noite tristeza
Estendendo uma negra asa
Sobre teu corpo exausto.
Apenas sobre o corpo !
Mas …
A serena manhã de sempre
Continua no teu sorriso
Na tua sensibilidade
E no teu verbo.
Que nenhuma asa negra
De noite imerecida
Conseguiu alterar !
FLORES DE FEVEREIRO
São raras em Fevereiro
As flores !
Mas num gesto de magia
Em 11 de aniversário
Sobre o primeiro bocejo matinal
A natureza espalhou
Pétalas brancas aos milhões
Numa tentativa corajosa
De mudança do cenário habitual.
Corajosa, simpática tentativa
Mas frustrada
O acto anterior ainda continuava
!
BUSCA NA NOITE
Pelos interstícios da noite
cálida
De pirilampos no silêncio
Fui tacteando corpo
que inventei…
Fresco e perfumado
A emergir das águas do rio
calmo, sensual…misterioso.
Encontrei apenas
Bruscamente desperto pela dor
Provocada por afiada garra de
silva
E sabor a sangue no dedo.
…
Insistirei em procurar-te
Em todas as noites de calor
E pirilampos no ar
Esteja ou não o dedo sarado…
Hei-de encontrar-te a emergir
das águas !
ORIGINAL
No teu aniversário
Original vai ser minha prenda !
Aquela estrela mais
brilhante!...
LAGRIMAS
Lágrimas :
Chuva salgada
Tempero de alegria e dor
Que não pode ser
Dos anjos ou das estátuas !
FRUSTRAÇÃO
Grande é agora a frustração
Do meu amigo e vizinho!
Era apolítico.
A sua politica era o trabalho
Fazia questão de recordar.
Era também contratado a prazo
Para além de apolítico.
Na passada semana
O contrato terminou
E o empregador não o renovou !
DESPEDIDA
Não houve exactamente um adeus
!
Mas deixei de ver por momentos
Com os olhos quase a se afogar
Nas lágrimas que não corriam !
O LAMENTO
Se soubesses poeta Grande
De sensibilidade infinita
O quanto sofro de incapacidade
de
Ao menos contigo me parecer,
Certamente desculpa me
pedirias!
Mas ainda bem que não sabes
Enquanto sofro e procuro
melhorar
Vou inventando
As pedras e os musgos cobertos de flores
As arvores vestidas de frutos
E de pássaros
Com a noite infestada de duendes
Que raivosamente afasto com o
bico da lapiseira !
PROTESTO CANINO
E o cão ladrava ladrava
furioso
Junto ao pedestal da nova
estátua
Aguardando inauguração !
Será que também o cão não
gosta do homenageado ?!
Ainda hoje não tenho a certeza
Se era gato escondido ou
Se seria mesmo rejeição canina!
Reis Caçote
Reis Caçote