quarta-feira, 15 de maio de 2019

DE MAGALHÃES a AVENTURA ( conto







                      DE MAGALHÃES a AVENTURA


                                                 I


Mal a noticia chegou, estava ainda a saborear-lhe a escorrência, assim como a um gelado lambido à beira-mar, com o chocolate a deslisar da boca do cone em direção ao vértice que o papel vai protegendo, quando o meu telefone, nem fixo, nem móvel, tocou:
 - Alo! É o Rosalvo!
Bastava o alô e sabia logo quem era! Estou a ouvir mal, mas não ao ponto de não identificar uma voz, mais a mais sendo a tua.
 - É distração minha, não te chateies.
Então o que temos hoje? Inquiri.
- Não tás a ver as noticias?
Estou, e depois?
- Ouviste esta cena do Magalhães?
Claro que ouvi e ainda não estou em mim, tal o espanto!
- Quando podes arranjar um bocado de tempo p’rá gente hablar…? Eu estou de férias, portante…
Eu vou estar de folga terça e quarta, mais a segunda porque uma colega do part-time … (não rias, porra!) a quem substituí umas  horas ara ela não faltar ao sazonal dos casórios, vai trabalhar na segunda por mim.
- Boa, vou combinar com a Isabel e vamos até aí num desses dias, ou ambos ou eu só.
Faz uma forcinha para ver se a Isabel vem! Ela também está de férias e os miúdos já têm mimos que cheguem! Diz alguma coisa, entretanto.
- Ok. Até breve.
Passada cerca de uma hora, outra vez o telefone:
- É o alô! (risada dos dois lados do cordel)
Pois…!
- É só para dizer que vamos ambos, na terça-feira, a horas de jantar! Jantas connosco?
Era o que faltava, não jantarmos juntos! Tens cada pergunta mais…
- Marca aí mesa para três…para mais dois e tu faz as contas: nós somos dois. A Isabel anda radiante desde a noticia!
Também só ainda passou uma hora, ainda pode perder o entusiasmo! Ok, meu, bota daí na terça, c’a gente vai jantar e gozar o nosso naco!
- Mas não te esqueças da cena da Páscoa!
Porra! Que real sacana! Pouco faltou p’ra nos pôr na rua a meio da refeição!
- Vês! E foi por causa de uma merdice, a brincar, como se o nascimento de Cristo e a Bula fossem tabus da Santa Madre! Mas é melhor prevenir, embora o Jerónimo tenha cabedal e coirice suficientes para dar a volta por cima e se alguém tivesse de ser posto no olho da rua, não eramos nós de certeza! Ainda vai chegar a ministro da justiça, o Jerónimo!
- Ah! Ah! Ah! E o Quim Barreiros a presidente da república! Ah! Ah! Ah!
Vai p’ró diabo! Até terça. Dá um toque quando chegares.
- Certo, caríssimo!

                                                 II

O telefone tocou, na terça-feira, às dezoito, mais minuto, menos minuto.
- Já cá estamos! É cedo demais?
Não! Vou já ter convosco dentro de cinco minutos.
Até-que-enfim a D. Isabel deu à costa! Há quanto tempo!...
- É verdade! E bem me apetece fazer como vocês fazem, mas, como dizia a tua Mãe: primeiro as obrigações e depois…
As devoções…! Quer com isto a professora Isabel dizer que as nossas farras de má-língua fazem parte das nossas devoções?
- Eu, para ser franca, já nem sei se são parte ou o todo da vossa Teologia!
Eu já nem sei, se fiz bem os se fiz mal…!...
- Canta, canta, sabes bem que é verdade!
Teologia, hein! Altíssima Filosofia, é o que elas são! E sem escola! Tudo é da nossa lavra, sem adubos ou pesticidas! Ah! Ah! Ah!
O Jerónimo é que por vezes desatina c’a gente, sobretudo quando vem à baila a religião ou aquela cena do PREC!
- Do PREC?! Aquele período a seguir ao 11 de Março…?
Inzatamente. Isabelinha! O tal de Processo Revolucionário Em Curso!
- E qual é o problema do Jerónimo, se isso já lá vai há um século?! É de século passado, pelo menos!
Só que eu, para o chatear, garanto-lhe que o PREC não acabou, como ele pensa! É como disse o mestre da teoria “ nada se perde, tudo se transforma”, mais ou menos isto, não é?
- É …?
Quando lhe digo que a coisa se transformou de Processo Revolucionário em Reacionário Em Curso, o homem vira bicho! E só não me insulta porque, ou tem a casa cheia de clientes e não quer que pensem mal e deixem de lá ir largar o “cacau” ou porque o Rosalvo está presente, senão…não te digo nada! Mas um dia destes ele passa-se, como quase sucedeu na Páscoa!
- O Rosalvo contou-me e, como é costume dizer-se “quem conta um conto…” e, segundo ele, já estava a temer pela tua integridade física, e tal, e tal, tás a ver?...
O teu esposo,…ele não está cá? Diz alguma coisa em tua defesa!
- Estou caladinho que nem rato para que ela oiça da tua boca aquilo que lhe tenho contado, e que ela diz sempre: “lá estás tu com os teus exageros!”
Isabel, enquanto o teu maridinho não for para o céu…
- Lagarto, lagarto, lagarto! Nem quero pensar nisso, antes quero ir eu primeiro!
…dizia eu que antes de ir para o…lagarto, lagarto, devia ir para os bombeiros voluntários, pois para guarda-costas de algum figurão, não tem…não tem nada!
- Alto lá! Que bocas são essas...?
Oh, Isabel, não tem aquele físico de ginásio, não anda bronzeado mesmo no Inverno e sem pelos no peito, gosta de andar bem penteadinho em vez de rapar o toutiço! E, sobretudo, não tem aquele ar de pitbull para manter o respeitinho!
- Ah, pois, estava a ver se tavas a mandar bocas foleiras!...
- Mas que conversa da treta, refila o Rosalvo. Daqui a pouco o Jerónimo volta e pergunta se o jantar é para servir na esplanada!
Vamos lá ao jantarinho: quem come hoje a cabeça do pargo?
- A Isabel não; ficamos nós. Vamos sortear? Propõe o Rosalvo.
Não vale a pena, eu sei que até te pelas para descascar a cabeça do animal!
- Outra vez?! Refila a Isabel.
- Não ligues, acalma o Rosalvo! Este tipo é incorrigível, está sempre a provocar e depois…fica a contas com o Jerónimo! E qualquer dia não é só com o Jerónimo! Eu já não ligo, conheço-o de ginjeira!

                                                                                                                                                                       III

O Jerónimo entra em cena, sorriso largo, de orelha-a-orelha como se diz é mais condizente com a realidade!
- Como tem passado, Dona Isabel? Há quanto tempo não nos visitava! Está com ótimo aspeto! E os meninos, como vão?
- Agora é a neta quem dá que fazer, os filhos já se governam sozinhos.
- Que idade tem a netinha? Pergunta o Jerónimo, sorridente.
- Vai este ano para a escola, fez seis anos.
- Então vai já estrear o Magalhães!
…Risos…
- Vocês combinaram isto!? Só pode ser, conclui a Isabel.
Palavra de honra que não! É ou não verdade, Jerónimo?
- O quê? Jerónimo com ar sonso.
Eu depois explico; vamos ao pargo; podes trazer a pinga e recomenda lá na cozinha que deixem apurar bem a cebola e o tomate!
- Obrigado pela recomendação; como se o Mário o tirasse do forno sem estar no ponto!
- Mas ele sabia ou não, que o principal motivo deste jantar era o nosso bem-amado Magalhães?
Não, Isabel! Toda a gente comenta o caso: “galinha gorda por pouco dinheiro”, dizem uns; outros temem que seja mais uma aldrabice deste primeiro-ministro, tal como a dos cento e cinquenta mil empregos, a que alguns preferem chamar “sinistro”, da sociedade do conhecimento, etc., etc., etc. E o Jerónimo, que faz questão de também ter sua opinião, alicerçada na síntese das mais diversas opiniões dos clientes, que sempre vai ouvindo, quer quando estão sóbrios, quer depois, quando estão com o “grão na asa”! Está mais atualizado, de certeza, do que nós estaremos hoje e amanhã! Ele conhece também a minha, mas confessa que é aquela que menos conta; pensa que todas as versões conhecidas, a minha é a mais aldrabada e é capaz de ter razão. A cabeça do Jerónimo deve estar um caos!
- Eu imagino, concorda a Isabel, rindo. Que volta lhe deste? Pergunta a Isabel, sorrindo, curiosa.
Eu já nem sei, confesso. Foi tanta coisa! Recordo que, sobre o Fernão não avacalhei nada, garanto, até gosto do Fernão, não sei porquê, mas dele foi em último lugar que falei! Antes do Fernão lembrei-me destes:
Um tenente Magalhães, da arma de artilharia, com quem me cruzei em Vendas Novas, durante o período que ali passei e que andava pelos lugares cimeiros no ranking militar do tiro com pistola e dos sustos que pregava aos amigos dele, distraídos, quando disparava a arma nas costas de algum, mas com a certeza de que não haveria acidente por ter ensaiado vezes sem conta a capacidade de penetração da bala num livro que ele depois colocava entre as costas do escolhido e a boca da arma, nunca deixando de pregar brutais sustos nas pessoas. A mim terá feito passar, durante os exercícios finais de campo, algures na Serra da Adiça, um turno de sentinela a partir da meia-noite, sob grande tensão, por ter sido posto a circular, ensaiando tiques da guerra subversiva, que o tenente da pistola e uma secção sob o seu comando, iriam passar o cordão de segurança e tomar de assalto o acampamento e respetivo comando! Devem ter visto nalgum filme e queriam imitar, mas acabou por nada suceder!
… O outro foi o inigualável furriel amanuense, Nelson Magalhães, colega ou camarada, como na tropa se quase exige, no Pelotão de Comando e Serviços de que ambos fizemos parte e de pensão e quarto durante os vinte e sete meses de Luanda. Tartamudo congénito, com seu pac-pac inicial antecipava qualquer discurso, mas que ele já não ligava e a nós continuava a divertir: pac-pac uma merda,vê lá se falas!
A Isabel ria de boca fechada, vermelha que nem pimentão e o Rosalvo, já conhecedor da história (ou estória?), acompanhava à viola! Gente doida!
… Um terceiro, artista por vocação e escultor em madeira por obrigação financeira, apareceu-me na Marinha Grande, aí pelos idos anos oitenta e nove do séc. XX, cabelo e barba à maneira, a condizer com a sua condição de artista, grandes e sempre mal tratados, para ele em liberdade, talvez aparados de seis em seis meses, mas só se houvesse dinheiro. O Henrique Magalhães, assim era seu nome e por ele soube, entretanto meu vizinho ou eu vizinho dele, pois ele já por ali andava, pela Guarda Nova, há não sei quantos anos quando eu para lá fui morar.
Logo no primeiro encontro conclui que ele sabia já mais de mim do que eu próprio sabia, o que achei espantoso e de mim fiquei por ele a saber um bom naco nesse dia.
Era um incondicional da cerveja, desde o jejum até aterrar de “cansaço”, ao fim do dia, bebida sempre em pé, cotovelo no balcão, até se lhe acabar o “graveto”; e as que levava para casa, para acabar as esculturas, dizia ele, eram já a crédito que nem sempre conseguia liquidar no prazo de precisar reabastecer-se, mudava de “tasqueiro” – fornecedor – quase todas as semanas, que só retomava quando vendia, ao desbarato, um alto-relevo do Benfica, do Sporting ou do Porto, esculpidos sobre pedaços de madeira de qualquer tipo que ia comprando, muitas vezes a crédito também, nas serrações vizinhas. Eram lombadas de troncos que não tinham qualquer valor para a indústria de móveis ou mesmo na construção civil.
Morava nas traseiras duma casinha térrea da Rua da Guiné, igual a tantas outras daquele bairro de operários da indústria do vidro, onde se chegava por um estreito corredor formado pela parede da casa de habitação e um muro que servia para demarcar o espaço que era duma propriedade e da do confinante do outro. O tugúrio era uma pequena cozinha que a maioria das casas das casas antigas, da hoje cidade da Marinha Grande, habitualmente tinha e onde eram confecionadas as refeições e assim preservar limpa a habitação propriamente dita.
A porta de entrada no espaço habitacional, cozinha e oficina, era em chapa metálica, pintada com tinta castanha, com frestas em cima e em baixo, tendo a meia altura, pintado a branco, do lado de fora e em letras “garrafais” o epitáfio
                                       AQUI JAZ
                                                     HENRIQUE MAGALHÃES
Parte do meu escasso mobiliário, quando deixei a Marinha Grande, ficou em casa deste “jazente” Henrique Magalhães, de aventuras menos históricas que as do seu conhecido Fernão; mas posso garantir que as do ido Fernão em nada se irão comparar às que aí vêm, com o novo Magalhães, não ainda da história, mas de estórias, quase delirantes algumas, é já protagonista.
- Está a cheirar-me que sim, concorda a Isabel.
Eis que chega o Jerónimo!

                                                 IV

- Posso servir? Pergunta o sorriso do Jerónimo.
- Venha ele, responde o Rosalvo, referindo-se ao Pargo. O Magalhães fica para a sobremesa!
- Vocês são um desastre! Isabel a fingir de zangada.
- Se nos acompanhares mais vezes não vais aprender nada, mas de certeza não morres de tédio, garante o Rosalvo à Isabel.
Hummmm…que cheirinho! Quem é amigo, oh Isabel? Lá pela capital já não se come disto! No meu tempo sim: que divinais caldeiradas cozinhava o Octávio, estivador por necessidade e pegador de toiros, dizia ele e eu não tinha motivo para duvidar, por orgulho de ser “marialva” e amante da festa brava! Lá, no Largo de Santa Bárbara, a padroeira das trovoadas, é que o meu “requintado” paladar, especializado no pão com azeitonas ou com figos e de vez em quando uma patanisca de bacalhau crú e bem salgado ou uma sardinha assada na labareda, dizia eu que foi lá que o meu paladar começou a deteriorar-se; o que ficou de requinte foi levado ou lavado pelo gindungo dos camarões em Luanda! Amém!
- Oh Jerónimo, não te esqueças do pratinho para as espinhas, lembra o Rosalvo.
- Aqui está o pratinho, senhor Rosalvo!
E agora, queridos amigos, vamos celebrar, caladinhos, a mestria do mestre Mário! Certo?
- Mas isto é sempre assim? Pergunta a Isabel.
- Não, por vezes o pargo é mais pequeno! Ri alto o Rosalvo…
- É impossível falar convosco! Refila a Isabel fingindo amuo.
Oh Isabel, come devagarinho e cuidado com as espinhas! Precisamos do teu saber para a sobremesa!

                                                           V

Os clientes foram saindo, alguns olhando de soslaio para a nossa mesa e a fazerem comentários em voz baixa de modo que não ouvíamos, melhor, não percebíamos, mas não aparentavam estar zangados, antes pelo contrário. E se estivessem zangados nós não ligávamos, mesmo que um ou outro fosse deselegante.
- Que especialidade de peixe! Comenta a Isabel. Que segredo terá o Mário p’ra ficar esta delícia?!
Ele vai gostar de saber do teu elogio, até porque ele se esmera quando nós vimos almoçar ou jantar! Mas a resposta, quase posso garantir, vai ser a mesma:
Não há segredos; um bom peixe, os temperos habituais e o tempo certo e temperatura do forno. Costuma acrescentar- a boa disposição e bom gosto de quem o come é o melhor dos segredos!
- Filósofo, este Mário! Comenta a Isabel.
- Teólogo, acrescenta o Jerónimo! Para ele fazer o pargo no forno é como o bispo a presidir à eucaristia!
- Este Jerónimo!...Esperto é também o cozinheiro! Concorda a Isabel.
- A sobremesa, se não preferirem outra, sugiro o pudim à Mário.
- Eu quero o pudim! Nunca mais esqueci tal iguaria!
Pudim para todos, Jerónimo.

                                                           V

Segundo me constou, tu, Isabel, andas excitadíssima com o Magalhães!
- Exagero! Excitadíssimo anda o primo-ministro e, quase tanto como ele, anda a Rita, desde que lhe disseram que os meninos e meninas que vão entrar para a escola, irão receber um computador pequenino. Quem não parece tão entusiasmada é a vizinha do quinto esquerdo, que dá aulas na escola lá do bairro. Que vai ser um elemento mais de desassossego a perturbar o fraco equilíbrio das aulas. Uma professora minha conhecida, com muitos anos de ensino está céptica, mas revela preocupação com o que possa suceder! Diz que em algumas turmas é mais que certo ir haver problemas.
Estou a imaginar os miúdos, em grupo, de mochila às costas, Mp 3 à cintura e auscultadores nos ouvidos, numa das mãos o telemóvel e na outra mão o Magalhães! Deve ser o máximo! Digno de ser visto, conjectura a Isabel.
Consta lá na capital que, um letrista de canções, vai apresentar ao Carlos do Carmo uma nova versão da letra do famoso fado “Os Putos”, em que altera, entre outros, aquele verso
                      “São como bandos de pardais à solta”
Para outra versão, mais contemporânea e que seria
                      “São como bandos de anormais à solta”
Mas alguém preveniu o letrista que não contasse com o Carlos do Carmo para permitir tal adulteração, conhecendo-se, como se conhece, a integridade intelectual e artística do fadista. Consta mesmo que ele terá comentado, quando tal lhe chegou aos ouvidos, que os putos de que ele fala não estão atacados por esse vírus de “sabedoria” que aí grassa e ameaça fazer mossa até que seja travado por uma qualquer vacina.
Oh Isabel, mas que a coisa tem o seu quê de anedótico, lá isso tem! E sobretudo por parecer mais “filha” do nosso engenheiro primo-ministro do que da Maria de Lurdes, da educação agitadora!
- Nem tinha reparado nesse pormenor, ó Silvério!
Deve ser p’ró currículo do grande-educador José Sócrates! É que do seu, como engenheiro civil, que se saiba, só ficou a constar a implosão das Torres de Tróia que ele ofereceu ao Belmiro do Continente e que terá tido como condição de o deixar a ele carregar no manípulo do comutador! O Belmiro aceitou a proposta e ainda lhe terá dado um euro p’ra recordação!

                                                           VI

- Já cá faltava essa! Salta o Jerónimo, de garrafa de bagaço na mão. Tinham que complicar as coisas, que estavam a correr tão bem!
É isto, Isabel. Este Jerónimo, não porque seja um convicto situacionista, que o não é, mas tem dias assim: não gosta que se critique ninguém, muito menos o primeiro! É platónica a paixão que ele nutre pela personagem!
- Não é paixão e muito menos platónica; já basta de ligações filosóficas entre os antigos sábios! Resmunga o Jerónimo.
Então conta lá, caro Jerónimo, o que te vai nessa alma de marinheiro que, de tanto mar enjoado se ficou pela restauração, de que todos nós beneficiamos?!
- Tivemos ou não um navegador de talento e coragem chamado Fernão de Magalhães?
Certo, caro Jerónimo, mas ao serviço de outra Coroa que não a dele!
- Não interessa qual a Coroa que financiou a viagem, o talento e coragem eram dele, Magalhães! Quem nega isso? Quase grita o Jerónimo.
- Ou seja – Isabel no uso da palavra – o que conta é o feito, não o efeito! É assim, Jerónimo?
- Nem mais – aquiesceu o Jerónimo já mais calmo.
- Se bem concluo – volta a Isabel – o que interessa é que o Magalhães chegue aos piquenos e não importa quem o fornece e quem vai pagar a fatura!
-É fácil, diz ufano o Jerónimo! O que os putos querem é teclar, tal como os mais velhos fazem, querem lá saber o que da tecla resulta, quem fez o aborto e quem o pagou!
- E aprender? Pergunta a Isabel a fingir irritação.
- Qual aprender, qual carapuça! Mas onde é que já se viu que um miúdo de seis ou sete anos queira aprender alguma coisa?! Ele aprende e não precisa de saber porquê, nem como!
- Bem visto, ó Jerónimo! Venha o Magalhães e o resto fica para depois. Vamos pôr os catraios a correr o Mundo, por terra, mar e ar e bem depressa, não interessa que mundo seja, o Magalhães também não sabia! Despachou o Rosalvo até ali caladinho.
- E que viva o Magalhães XXI – aplaude a Isabel.
Só mais um cheirinho, ó Jerónimo, cá p’rá gente e traga o seu copinho
                                       À saúde do Magalhães!
Reis Caçote
Set./2010


                           






                                        



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