domingo, 8 de dezembro de 2019

BIOGRAFIA DE UM LINFOMA NÃO HODGKIN



      
                    O ANTERIOR TEXTO, POR QUALQUER RAZÃO NÃO
                    IDENTIFICADA, DESAPARECEU! HÁ QUE REPÔ-LO!


                                            O INESPERADO VISITANTE


                                                                      I


Devia existir entre nós, há algum tempo, uma tão subtil relação de proximidade, ou mesmo de intimidade, que não me apercebera da sua presença: ou pela minha natural distracção, ou pela sua subtileza, não sei se natural também, que dele não conheci o suficiente para tirar uma conclusão. 

E não vale a pena, agora, querer saber tudo, à pressa, pois iremos ter o tempo e, espero, a boa disposição suficientes, para melhor nos conhecermos, mesmo que, sabendo ele, como suponho eu, que não iremos ter uma relação pacifica nem fácil, com o dedo e mútuo respeito, assim o espero, pelas razões que tentarei explicar:


                                                                                         II


Os primeiros contactos, se assim os poderei designar, por tão subtis da sua parte se manifestarem, terão sido por volta do final do mês de Outubro de dois mil e onze, traduzidos num cansaço ligeiro e geral, numa perda de sensibilidade da perna direita, bem notória alguns dias, parecida com a sensação de o pé se movimentar sobre um pequeno colchão de água, a que fui atribuindo a responsabilidade aos muitos e maus tratos dados à coluna, registados em exame há algum tempo feito para ver da sua gravidade.

O ano tinha decorrido, em termos farmacológicos, sem alterações na prescrição médica: a transalusina para manter a apóstata dentro das dimensões normais, mais tarde reforçada com o Permixon; um comprimido de Ticlopidina para que o semi-bloqueio do arco da aorta se não agravasse e o Lorenin para dormir melhor, desde que a empresa faliu e os encargos me levaram a capacidade de dormir sem apoio.

A médica de família, perto do final de Novembro, verificando que desde há muito tempo não fazia exames, achou que era altura de recolher dados de apoio a um diagnóstico futuro, requereu um pacote de exames que abrangiam os principais quadros patológicos nos indivíduos da minha idade:  análises ao sangue e urina, pedindo eu, no laboratório, para acrescentarem uma contagem de plaquetas e ao HIV e exames imagiológicos , incluindo a densidade óssea.

Tudo estava dentro dos parâmetros da normalidade, apenas o colesterol um pouco acima do normal, mas que comparado com exames anteriores já tinha sido avaliado e de seguida voltava à normalidade.

Manteve a mesmo posologia e comentou que tinha um conjunto de valores  analisados que muitos indivíduos, com metade da minha idade, os não  tinham.

O ligeiro cansaço geral sugeria a utilização da cama, não por que fosse a tal ponto, mas o apartamento onde morava era tão exíguo que não permitia incluir no conjunto um pequeno sofá, funcionando a cama como a tábua de salvção, para ler, escrever e ver televisão.

Desde há muito tinha parado com as pinturas, por um lado por não ter espaço para pendurar as telas e por outro o cheiro a tinta não ajudava a melhorar o pequeno espaço do T0.

A escrita qguardava também algum melhor período de discernimento, penso que ainda afectado pela forma como correu a última visita aos amigos da Alemanha, em Junho, quando referi que não voltaria a sair de Portugal enquanto fosse visto por alguns países da EU que mais parecia uma  união de provocadores!

Permanecer no café, para além do tempo de tomar a bebida e dar uma olhada rápida nos títulos dos jornais, não aguentava mais.

Restava a leitura e a busca da cama, por ser o espaço único para descansar, acabando por, naturalmente, se ir impondo, com prejuízo de toda a dinâmica física e postura corporal.
Nada dava para suspeitar da presença de algo estranho que decidisse acompanhar-me nesta propensão para a letargia.

No mês de Janeiro, penso que logo após a estar a ajudar a limpar um tapete da sala da Lena e Rui, sempre a armazenar pelos das, agora, três gatas, com uma escova grande, apareceu-me uma dor forte, no polegar da mão direita.

Na farmácia recomendaram uma pomada analgésica que eu tinha em casa e que seria aconselhável ligar a mão por uns dias, sugestão que não teve sequência.

Na véspera, à noite, um dos clínicos que todas as semanas pernoitam na Residencial onde trabalho há quase dez anos, quando me cumprimentou e eu me queixei, falámos sobre a dor que sentia na base do primeiro dedo, ele, não sendo da especialidade, diagnosticou uma luxação por esforço e sugeriu a posologia de um anti-inflamatório, oferecendo-me um dos que trazia consigo, cuja designação farmacológica não recordo.

O hibuprofene foi o sugerido, que adquiri na farmácia no dia seguinte, sendo a posologia recomendada, de duas cápsulas por dia, após as refeições do almoço e jantar.

Além de a dor passar, outra alteração orgânica, mesmo que ligeira, não dei pela sua presença; só o cansaço se foi acentuando e com ele uma sonolência que me aconselhava a cama.

Passados dois ou três dias da toma do anti-inflamatório, notei que os intestinos não funcionavam com a habitual regularidade e havia alguma prisão de ventre.

Novamente, a conselho da farmácia, comecei a tomar um protector gástrico, cuja designação não recordo. A prisão de ventre continuou, o cansaço aumentou e as fezes começaram a ficar mais escuras.

O cansaço continuava e parecia aumentar gradualmente, estava a perder peso e algum desequilíbrio, semelhante a tontura, surgiu também.

Passou o fim de semana e na segunda feira, pelas sete da manhã, fui para o posto médico tentar ser visto ela médica de família que,  sem demora na consulta, passou credencial para fazer análises e mal tivesse os resultados lhos fosse levar, mesmo sem consulta marcada.

Quarta-feira, dia vinte e nove de Fevereiro de dois mil e doze, levantei-me, fui à Cedile levantar o relatório da análise, com alguma dificuldade, embora seja a trinta metros da Albergaria do Terreiro, onde tinha o apartamento.

De envelope na mão, havia que ir ao Posto Médico entregar as análises à doutora Ivone, a médica de família.

A distância da Cedile ao Posto Médico, feitas as contas mentalmente, não devem ser mais de quatrocentos metros.

Eram pouco mais de sete e trinta horas, quando iniciei a subida que vai do Terreiro ao Convento dos Francicanos, na Portela.

Menos de cinquenta metros "arrastados" tive que me sentar no degrau da entrada para a casa onde morou o escrivão Pena e família, para recuperar forças que não tinha, durante cerca de dez minutos; nova paragem sentado no muro de pequeno jardim triangular, frente ao que foi a Casa de Saúde de Leiria. Quando me sentei pela seguda vez e deixei os pensamentos resvalar para o meu estado físico, o psicológico estava ainda pior! E mais duas vezes tive de parar, até chegar ao Centro de Saude.

A doutora Ivone mal olhou para mim, como que atraída para o envelope com o relatório das análises.

- Tem que ir já para as urgências do hospital para levar uma transfusão de sangue, para onde ia telefonar, para tudo estar preparado e enviaria os resultados da análise pelo sistema informático! Perguntou se tinha algum meio de transporte ou chamo uma ambulância?



                                                                          III



Telefonei para o Rui ou para a Lena, não tenho a certeza e aguardei que chegassem para me levarem ao hospital.

Como devia entrar de serviço às dezasseis horas, telefonei a dar conta do que se passava e que teria de ser substituído.

Cerca das dez da manhã fazíamos a inscrição nas urgências do Hospital Santo André, Leiria e cerca das dez e trinta estava a ser observado pelo médico de serviço na cirurgia dois; foram feitos uma série de exmes, desde o simples raio X do tórax, passando pelo hemograma de preparação para a endoscopia e recolha de tecidos para a biopsia.

Entretanto duas doses de sangue alheio veio misturar-se com o meu!

Foi marcada a endoscopia e nova consulta, onde teria já o resultado da recolha para a biopsia.
No dia marcado para a endoscopia e a preparação recomendada , feita com o rigor que não dispenso, apresentei-me no local do exame, onde foram feitas algumas perguntas e recomendações, uma vez que nunca teria feito antes exame semelhante.

Um tubo,  que a técnica ia introzindo pelo boca, descendo pelo esófago, até chegar ao estômago, provocou algumas sensações de pré-vómito, tranquilizando-me a técnica com a confortável frase: "está quase" e está a portar-se como um valente! Fiquei vaidoso com tal adjectivação!

No decurso do exame, deitado de lado, de costas para quem guiava o exame e que ia acompanhando de recomendações e perguntas, a que eu respondia por sinais, ou tentando responder sem o coseguir, o tubo era uma barreira intransponível, mas lá ia obtendo o sim ou o não, conforme os casos, em linguagem gestual.

- Mas que é isto?! Perguntava-se a técnica.

- O que para aqui temos, homem de deus!? Exclamava, com uma cara que imaginei ser de espanto, uma vez que a não via!
- Oh, doutora, venha ver isto! Voz de espanto!

- Olhe o tamanho! Parte da parede do estômago e chega quase ao esófago!
- Impressionante! Voz diferente de alguém que não cheguei a ver.

- Veja o comportamento: pressiono e quase desaparece deixo de pressionar e regressa ao formato e volume anterior! Para a doutora, devia ser.

A doutora deve ter voltado ao seu lugar e a técnica a avaliar o que não eu não via e devia ver:
- Vai ficar sem estômago, sabe? Garantia a senhora!

Terminada a revista ao órgão e seu devaneio,  a técnica voltou a descrever o que ía designando por pólipo e que iria ficar sem estômago! Elevei os ombros, naquele gesto de quem nada tem a acrescentar, o que pareceu não lhe ter agradado, retomando o passado recente e o futuro que acabava de deixar de ser presente:

- Fez sempre sinal de que tudo estava bem, quando lhe perguntava se doía, só se manifestou com o esboço de vómito à entrada do tubo, acabo de lhe dizer que ía ficar sem estômago e como resposta foi o esboço de sorriso e o movimento dos ombros! Que homem é você? Voz parecendo irritada!

Quando me perguntava se tudo estava bem eu fazia o sinal de confirmação, se eu me queixasse deixava de fazer o exame?

- Não, mas podia adoptar outra forma! Respondeu!

E quanto à ablação do estômago, assim sendo, só o evitarei se recusar sujeitar-me à operação e até lá vou ter tempo para analisar a situação e tomar a decisão!

Em dois mil e quatro foi-me removida a vesícula por ter um cálculo de cerca de dois centímetros, que foi detectada num exame de rotina para ver como estava a minha próstata! O doutor perguntou, quando a viu, se em sabia que tinha uma pedra na vesícula?

Respondi que não sabia e, para animar disse que nem sequer sabia se tinha vesícula, por não ter dado qualquer sinal antes e passados oito anos continuo a não dar pela falta dela!

E se vier a ter que ficar sem estômago, alguma coisa se arranjará, não irei desatar a chorar! Vou esperar!

- Desejo-lhe felicidades, você é um caso raro! E estendeu-me a mão para se despedir! Vamos aguardar o resultado da biópsia!

Tenho já consulta marcada para o dia seis! Obrigado pela forma como me tratou!


                                                                          IV


A consulta marcada para seis de Março foi apenas informativa.

- A partir de hoje deixa de estar à responsabilidade deste Hospital e todo o processo transitará para Coimbra, para a unidade de hematologia, no Hospital dos Covões, que deverá chamá-lo dentro de poucos dias.

Dia dezanove de Março fui observado pela doutora Marta, que na época era a coordenadora, ou chefe, da equipa de Hematologia! Fez os testes e perguntas, certamente os habituais nestes casos, disse que eu tinha um Linfoma, que iria analisar todo o meu histórico clínico e com a equipa decidiriam do que mais aconselhado seria para o meu caso, sempre  através de quimioterapia, para isso necessitavam da autorização do doente ou familiar, caso o doente não estivesse em condições de decidir, o que não era o caso.

Em jeito de justificação informei a doutora: que, desde há muitos anos, a família sabia que, se porventura tivesse algum problema de saúde em que tivesse de ser submetido a qualquer dos tipos de tratamento, em que interviesse a quimioterapia ou radioterapia, eu não queria submeter-me a tal terapia.

As circunstâncias mudaram e, naturalmente, as decisões mudam em racional consonância.

- A cooperação do doente, em termos psicológicos, é tão importante como a nossa contribuição técnica! Frisou a doutora.

Façam o que acharem adequado tecnicamente e deixem a parte psicológica, essa domino eu bem.

Estiveram presentes na consulta a Lena e o Rui, vindo a saber, na viagem de regresso que o Rui conhecia o pai da doutora Marta, de Santarém, pequeno comerciante de pronto a vestir e cliente das Confecções Violante, empresa de que o Rui era um dos vendedores, situada em Leiria.

Neste mesmo dia foi marcada uma PET – Tomografia com Emissão de Positrões, que seria realizada nos Hospitais da Universidade de Coimbra, no dia vinte e três de Março e a consulta seguinte, na hematologia para o dia vinte e sete, nesse dia iniciando a série de oito sessões de quimioterapia, num total de oito, com intervalo de vinte e um dias.


                                                                                         V


A primeira sessão de quimioterapia, antecedida da recolha de sangue para análise e consulta depois de conhecido o resultado da analise, feita no Laboratório do Hospital, se não estou errado.

Não recordo a que horas começou a sessão, num espaço reservado a essa finalidade, onde já estavam mais quatro a receber a quimio através de um cateter, introduzido na veia da parte anterior de uma das mãos, que a mim foi aplicada também.

A primeira das sessões, talvez por ser a inicial, durou cerca de três horas e meia, com a enfermeira sempre atenta, perguntando se me sentia bem; a seguir ao almoço entreguei-me nos braços de Morfeu, durante algum tempo, tendo sido visitado pelos membros da logística, a Lena, o Rui e também a Graciete, omitida antes por pensar que só na segunda sessão ela nos acompanhou; a enfermeira deve ter mostrado, eu ferrado no sono e só voltaram perto da hora de terminar a sessão.

A enfermeira entregou-me duas pequenas de comprimidos: para o caso de enjoar durante o percurso ou no decorrer dos dias, uma das mini-doses, a outra não cheguei a saber para que efeito era e não terei perguntado a quem foi dada a informação.

Tudo decorreu normalmente durante a viagem e foi exactamente quando o carro estacionou, junto ao quinze da Rua das Flores, que algo deu uma volta completa, os intestinos entraram em rebelião violenta, mal tive tempo de entrar em casa e correr para a casa de banho, mesmo na hora em que se deu a descarga, ainda ficando, cuecas e calças com parte da descarga!

Como anunciado e marcado fiz a PET, nos HUC, no dia vinte e três de Março, e continuaram as sessões de quimio, com intervalos de vinte um dias. Sem qualquer tipo de sofrimento ou alteração notáveis.

O facto de ser um doente oncológico, isentava-me do pagamento de taxas moderadoras e tinha direito, durante o período de tratamento, a transporte em ambulância, que passei a utilizar.

Mas, como estava a trabalhar, além do desconto para a Segurança Social, descontava também para o IRS – Imposto Sobre os Rendimentos Individuais, que devia estar isento também, mas para tal teria que ser sujeito a uma Junta Médica para definir qual o grau de incapacidade.

Foi marcada, não a consulta pela Junta Médica, composta por três médicos, mas antes tinha uma consulta, tipo rastreio ou avaliação primária, que mais não era do que um acto administrativo para confirmar se a documentação médica que levaria era a suficiente.

Tudo foi feito e marcada a Junta Médica! Não percebi muito bem a forma como chegaram à conclusão da percentagem de incapacidade, mas acabaram por ser contabilizados sessenta por cento(60%), durante cinco anos, findos estes voltaria a nova avaliação.

Contráriamente ao que fazia quando fosse a qualquer hospita, nomeadamente às consultas de quimio, tinha-me sido recomendado o uso de máscara, que sempre fazia!

 Para a consulta da Junta Médica, por não ser num hospital, mas num Centro de Saúde, de moderna construção, não pensei usar a máscara! Fiz mal.

Dois dias depois surge uma febre altíssima que ao fim do dia me levou à Urgência do Hospital de Leiria, de onde já não saí, passando a noite num espaço isolado e reservado aos portadores de algum vírus contagiante.

Foram feitos exames vários e na manhã seguinte fui transfarido para um dos últimos pisos do hospital,  para um espaço isolado, onde ninguém entrava sem que usasse máscara, para tanto estava colocado à entrada uma quantidade de máscaras e o aviso de proibição de entrar sem máscara, e onde permaneci uma semana, com duas assistências médicas diárias: de manhã e ao fim do dia, principio e fim do turno da médica, sempre a mesmo. 

Quando a alta foi anunciada, numa daquelas decisões expontâneas naturais, manifestei à médica, que sempre vi de máscara, a curiosidade de lhe ver o rosto, antes de sair, eu colocaria a minha máscara e ela tiraria a dela!

 Achou interessante a minha curiosidade e assim acabei por ver um rosto de mulher jovem e de grande beleza! Agradeci e elogiei, não a profissional, mas a mulher.

"As minhas defesas estavam ainda tão fragilizadas que os cuidados tinham de ser redobrados: não podia fazer grandes exposições ao sol, e estava proibido de bebidas brancas, todos os destilados"

Este incidente veio atrazar o programa da quimioterapia, uma semana, a doutora Marta, que devia estar já de posse do histórico do incidente de Leiria, achou que não devia fazer a sessão nesse dia, mas na semana seguinte.


                                                                          VI


A seis de Junho, nos Covões, foi feta a segunda endoscopia. Durante o exame, a técnica perguntou se tinha já sido operado ao estômago e, por sinais, respondi que não!

- Como tem uma espécie de cicatriz, pensei que já tinha sido!acrescentou.

Não estávamos em tempo de comentários, nem os faria por me parecer que nada iriam adiantar! Mas não deixei de pensar: ora, se há uma espécie de cicatriz é porque alguma mudança houve; o tal "pólipo" que tanto espanto causou em Leiria, deve ter recuado, deixando uma marca que, agora, se assemelha a uma cicatriz de anterior intervenção cirúrgica! Foi este o meu raciocínio, sem qualquer base teórica e muito menos técnica.

Não terá sido por acaso que a equipa de hematologia, tudo levava a crer, para maior garantia, marcou para quinze desse mês de Junho, uma consulta nos serviços de MN – Medicina Nuclear  e um novo exame tomográfico, para confirmação ou negação do que a biopsia afirmava: 

ausência de quaisquer vestígios de natureza neoplásica a nível da região onde se declarou.

A PET, realizada no dia nove de Julho, nos HUC, iria fazer o rastreio do percurso da corrente sanguínea, que confirmou o resultado da biopsia.

Estávamos a meio do programa estruturado pela equipa de hematologia, mas nem por isso foi interrompido.

Terá sido nessa altura que a doutora Marta, porta voz da equipa que chefiava, deu nota à Lena e Rui, coisa que só muito mais tarde, já terminado o programa de quimio, que, depois de estudarem o meu historial clínico e os exames feitos em Leiria, a minha estrutura física era entre quinze e vinte anos inferior à idade real, sendo esses factores tidos em conta para estabelecerem a dosagem de quimio a ser aplicada.

E, nessas condições, foi terminado o programa, passando à fase de assistência, que ia sendo alargado, conforme sucedeu e continua, agora de uma ano e deverá passar a intervalos de dois até não sei quando!


                                                                          VII


Ainda durante o período do programa de quimio, a que não foi atribuída alguma importância, eu fui apresentando, como queixa, uma sensação de insegurança, atribuída a outra sensação de andar com "sacos de água" dentro dos sapatos o que provocava alguma instabilidade.
Esta sensação foi mudando progressivamente, até se manifestar por alguma insegurança e perda de equilíbrio, com alguma dor na região da lombo-sagrada, muito mal tratada desde há muitos anos, tendo a manifestação mais antiga sido em Luanda, aquela dor que era designada por ciática, tendo que andar apoiado em dois camaradas, o Magalhães e o Pinto, para qualquer deslocação que fizesse!

Infravermelhos e uma ou duas sessões de ultrassons equilibraram as coisas, mas depois de regressar a Portugal voltou a suceder e foi um médico que prestava serviço num dos Postos Médicos, do que seria a Saúde Pública da época, me receitou o Neurobion e um outro da mesma ordem, cujo nome não recordo e a verdade é que a nevrite não mais me atacou.

A equipa de Hematologia achou que as queixas seriam da especialidade de Neurologia, acabando por passar a ser  assistido nos HUC! A doutora Marta, quando soube quem era a médica a quem coube o meu caso, comentou que era uma equipa de muita competência e ali tenho andado!

Só para dar este assunto do Linfoma não Hodgkin: a doutora Marta, com a apregoada reestruturação hospitalar, acabou por ser transferida para os HUC, deixando de haver Quimioterapia nos Covões, que passaram a serviço de cuidados continuados, sobretudo na assistência aos doentes ali tratados, como é o meu caso, tendo a próxima consulta marcada para dois de Março de dois mil e vinte.

Leiria, 4 de Novembro de 2019.